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A Verdade é uma Caverna nas Montanhas Negras


Neil Gaiman

Publicada incialmente em uma coletânea de contos do autor, A verdade é uma caverna nas Montanhas Negras é uma história fascinante sobre família, a busca por um tesouro e a descoberta de um novo mundo. Em uma colaboração inédita, os personagens e as paisagens de Gaiman ganham forma com um traçado sombrio e impreciso do artista Eddie Campbell, e o resultado é uma obra que passeia entre o livro ilustrado e o graphic novel, desafiando os limites entre texto e imagem em uma explosão de cor e sombra, memória e arrependimento, vingança e, principalmente, amor.

Olá Pessoal, tudo bem?

E mais uma vez temos Neil Gaiman aqui no blog, esse ano eu não repeti muito autores nos meus lidos com uma exceção do próprio Neil Gaiman que foram 3: A Bela e a Adormecida, O livro do Cemitério e agora A verdade é uma caverna nas montanhas negras.

Esse livro surgiu de um projeto inovador proposto pela Opera House de Sydney em um festival internacional chamado Graphic em 2010, eles convidaram o Neil Gaiman a ler um conto e ele escolheu esse contque era inédito, então o Eddie Campbell (Do inferno - Allan Moore) fez algumas ilustrações que seriam exibidas durante a leitura e tudo seria acompanhado por um trilha sonora do quarteto de cordas FourPlay, essa exibição deu tão certo e fez tanto sucesso que ela acabou sendo repetida em outros lugares e depois foi transformada nesse livro. Abaixo Gaiman comentando o projeto:


O livro é uma mistura de livro ilustrado com quadrinho, pois além das ilustrações temos algumas partes em forma de quadros e também o fundo de página tudo isso contribui para a construção do enredo e para a forma que a história é contada.



Aqui temos um anão que procura um border reaver (uma espécie de salteador de fronteira, que entre o século XIII e XVII assaltava pessoas entre a Inglaterra e a Escócia) chamado Calum MacInnes para guiá-lo até uma caverna localizada na Ilha das Brumas, uma ilha mágica que ora esta e ora não esta no mesmo lugar que seria cheia de ouro, mas que ao contrário do que acontece com a maioria das histórias com cavernas cheias de tesouro não é guardada por nenhuma criatura, como um dragão como em O Hobbit, por exemplo, porque as próprias pessoas a evita, pois sabem que quem sai de lá carregando ouro deixa um pedaço do seu coração, da sua alma e perde um pouco a capacidade de ver a beleza na vida.

Isso é tão interessante que me fez refletir um pouco sobre nossas vidas e em quantas vezes fazemos isso, quantas vezes abrimos mão de um pedacinho de nossa alma por um punhado de ouro. Não estou falando de coisas grandes, não é o empresário que contamina uma nascente e consequentemente condena toda uma população somente para não dar tratamento adequado aos seus resíduos, nem do politico que dá concessão a uma construtora sem condições que vai fazer o viaduto que cai em troca de propina, esses perdem a alma inteira. Estou falando das pequenas concessões que muitas vezes fazemos pelo emprego, salário, uma posição social um pouco melhor, mas que no fundo nos tira um pouco a capacidade de ver o colorido da vida. E se ver a porta dessa caverna faz parte do amadurecimento, por mais que, busquemos manter a pureza e o olhar de criança é impossível mantê-lo totalmente. Quando chegamos a porta da caverna a questão fundamental é vale a pena perder um pouco da minha alma por esse punhado de ouro? Acredito que em alguns momentos a resposta será sim, mas o importante é termos essa consciência até porque a cada vez que entramos nessa caverna perdemos um pouco mais desse colorido e temos que cuidar para a vida não se tornar um grande filme em preto e branco.

A história se passa nas Highlands na Escócia, mas não fica muito claro o período o que contribui para essa sensação de atemporalidade da mesma. E apesar de ser uma história curta, ela vai sendo construída aos poucos, a medida que a viagem dos dois vai acontecendo vamos conhecendo um pouco mais sobre os mesmos personalidade e passado dos mesmos. E nada esta ali de graça, tudo tem um motivo é fica bem amarrado no final, até mesmo o encontro com uma vidente, depois que se finaliza o livro fica muito claro o que ela quis dizer. E no final descobrimos que essa é uma história de vingança, mas será que a vingança realmente vale a pena ? Será que ela realmente muda alguma coisa? Depois que eu finalizei o livro eu voltei e reli a primeira página e aí ela fez todo o sentido.

Não seria um livro do Neil Gaiman se não tivesse um pouco de fantástico e referencias mitológicas, uma bastante clara, é a presença de um barqueiro que assim como Caronte cobra uma moeda para transporta-los ao outro lado, seria então a caverna uma representação do inferno? Inclusive a ilustração do Campbell lembra muito as representações de Caronte.


Outra discussão muito interessante suscitada pelo livro é sobre a verdade e os dois personagens tem opiniões bastante distintas sobre ela para o anão:

"Às vezes acho que a verdade é um lugar. Para mim, é como uma cidade: pode haver uma centena de estradas, uma centena de caminhos que, no fim, nos levarão ao mesmo lugar. Não importa de onde venhamos. Se seguirmos na direção da verdade, vamos alcança-la, independentemente do rumo que tomarmos."

Já para Calum MacInnes:

"A verdade é uma caverna nas montanhas negras. Há somente um caminho até lá, e um caminho apenas. Um caminho árduo e traiçoeiro. E, se seguir na direção errada, vai morrer sozinho na montanha."

E aí o que vocês acham?

E esse é o poder da literatura, um conto ilustrado consegue nos fazer refletir sob tantos aspectos. Aliás, as ilustrações e tudo que compõem esse livro ajuda na construção do enredo e no contar dessa história. As ilustrações são darks como a história, às vezes, parecem apenas esboços mas em outros momentos ganham uma força notável principalmente na expressão dos personagens.


Não sei se eu consegui me expressar claramente nesse post, mas essa é uma leitura que eu recomendo bastante, leia com calma, observe as ilustrações e reflita.

Título: A Verdade é uma Caverna nas Montanhas Negras
Autor: Neil Gaiman
Ilustrador: Eddie Campbell
Editora: Intrínseca
80 páginas

Até a próxima,

Dani Moraes

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