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Hospício é Deus - Diário I

Maura  Lopes Cançado
 
 
Olá pessoal, tudo bem ?
 
 
Hoje vamos conversar um pouco sobre esse livro que foi recentemente relançado pela editora autêntica. Maura Lopes Cançando nasceu no interior de Minas em 1929 e faleceu em 1993 no Rio de Janeiro e durante a sua vida teve diversas passagens por hospitais psicológicos, esse livro é o diário que retrata o período da sua terceira
 internação em que ela passou no Hospital Gustavo Riedel, Centro Psiquiatrico Nacional, Engenho de Dentro no Rio de Janeiro.
 
"Eu crescia e cresciam meus temores: o escuro, a noite, a morte, o sexo, a vida - e principalmente Deus: de quem nada se podia ocultar."
 
O livro inicia com um relato da própria autora sobre toda a sua a vida até o momento da sua internação, o relato é relativamente curto, mas contem as informações mais importantes sobre a vida da autora que ajuda a compreender um pouco essa figura um tanto excêntrica. Na sequencia o livro vai para as entradas do diário propriamente ditas onde a autora além de retratar o dia-a-dia dentro da instituição, vai relatar seu pensamentos, seu tratamento e suas angustias.
 
 
“Não creio ter sido uma criança normal, embora não despertasse suspeitas. Encaravam-me como a uma menina caprichosa, mas a verdade é que já era candidata aos hospícios aonde vim parar”
 
Maura era o que pode se chamar de uma "figura" e é difícil definir o que dentro do que é relatado é realidade e o que é criação da autora. Ela tem histórias muito conhecidas, dizia ter derrubado um avião, apenas pelo prazer de vê-lo cair, o que não é verdade, pois no próprio livro ela conta que foi um acidente provocado por um amigo. Além disso, ela tinha um comportamento muito livre para a época, pilotava avião, se casou aos 14 anos sem ser virgem e se divorciou aos 15, bebia, participava da vida boemia e teve amantes e outros comportamentos escandalosos, principalmente, para uma representando da tradicional aristocracia mineira.
 
 
No entanto, um dos aspectos mais reais do livro é o relato da autora sobre o dia-a-dia em um instituição psiquiátrica, especialmente, em instituição publica, uma vez que, a mesma já havia sido internada anteriormente na rede privada e tinha condições de comparar. As internas são brutalizadas, o tratamento dispensado as mesmas é violento, incluindo socos e pontapés, exposições ao ridículo e isolamento no quarto forte, muitas vezes sem nenhum motivo real. Quando lemos o relato mais parece que o hospital, na verdade, é um depósito para pessoas com as quais a sociedade não quer lidar ou se responsabilizar.
 
 
"Não dão ao louco nem o direito de ser louco. Por que ninguém castiga o tuberculoso, quando é vitima de uma hemoptise e vomita sangue? Por que os "castigos" aplicados ao doente mental quando ele se mostra sem razão?"
 
Fica bastante claro o quão inadequados são os tratamentos pifiamente oferecidos e também há a critica aos médicos que ficam no hospital por apenas algumas horas e que quem verdadeiramente manda no hospital são as guardas (ou seria carcereiras?).
 
Mas apesar do relato do dia-a-dia  ser bastante interessante, eu diria que o que mais me chamou a atenção durante o livro foi esse entrar na mente da própria autora, tanto pelas atitudes da mesma quanto por seus pensamentos relatados é possível notar que ela realmente sofre de transtornos psíquicos, principalmente pelos seus arrombos megalomaníacos e suas explosões de cólera. Por outro lado há muito lirismo na prosa da autora, tornando o diário extremamente literário.
 
"A inutilidade do meu falar constante. Cerca-me o Nada. O Nada é um rio parado de olhar perdido. Não creio, mas se cresse seria bonito. Não creio, e tenho o Nada - e o Hospício."
 
Ela também relata uma paixão pelo vice-diretor do hospital e seu medico, um homem casado e negro, o que suscita alguns comentários sobre a questão racial. Mas o verdadeiro questionamento é essa paixão realmente existiu ou é só um elemento inserido pela autora como um possível chamariz para essa história?
 
"Mas eu preciso. Preciso descobrir alguém o que para mim está nebuloso e difícil. Preciso encontrar-me em alguém. A minha parte preciosa e escondida. A minha alma intocada. Entretanto dr. A não deve precipitar as coisas.  É necessário julgar tê-lo encontrado. Sim, a necessidade de acha-lo onde o coloquei."
 
Esse é um livro muito interessante e que suscita questionamentos tanto no plano mais prático com relação ao tratamento dos doentes psiquiátricos como com relação a questionamentos mais existencialistas em relação a condição humana.
 
Apesar do subtítulo Diário I, a segunda parte nunca foi lançada, diz a lenda que o editor da Maura esqueceu-a em um táxi.
 
Livro: Hospício é Deus
Autora: Maura Lopes Cançado
Editora: Autêntica
227 páginas
 
Aproveito para indicar um programa sobre a autora da TV Brasil que é um bom caminho para conhecer um pouco mais sobre a história da autora, além disso, no programa é encenado um dos seus contos mais famosos.
 
 
 
Por hoje é isso e aí conhecem a obra dessa autora nacional?
 
Até a próxima,


Dani Moraes


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